Com bala alojada na coluna, estudante de medicina do Piauí assiste aulas em cima de uma maca

(Foto: Adriano Vizoni/Folhapress)

Uma cena diferente tem chamado a atenção de quem frequenta a faculdade de medicina da Universidade Federal do Piauí, campus de Teresina. Todos os dias, uma ambulância adentra as dependências da Universidade sob olhares curiosos de funcionários e alunos.

O veículo serve de transporte para o estudante Leandro Silva de Souza, de 21 anos de idade, que cursa o segundo período de medicina.

Além do veículo especial para conseguir chegar ao centro de formação médica, o jovem Leandro, desloca-se em uma maca por laboratórios e auditórios, além de assistir às aulas, por até oito horas, deitado de bruços.

Desde março deste ano, o estudante enfrenta a pobreza, olhares curiosos, dores posturais e a falta quase completa de acessibilidade na estrutura da universidade para seguir o propósito de ser médico.

“Tenho que lutar todos os dias contra a adversidade, colocar fé e perseverança na cabeça para seguir em frente e nunca deixar de pensar que tudo é possível, que as coisas irão melhorar”, diz.

Leandro ficou paraplégico após levar cinco tiros ao tentar apartar uma briga entre amigos há quatro anos. Um tiro no fígado, um no pulmão, um na barriga, um de raspão na perna e outro na coluna.

Ainda está alojada a bala que provocou a lesão medular, atingindo sua vértebra T11, o que o fez perder os movimentos e parte da sensibilidade tátil da cintura para baixo.

O homem que o baleou à queima-roupa está solto a espera de julgamento. Ele alegou que não queria ninguém intervendo na briga.

Leandro já foi avisado de que é necessária uma cirurgia para a retirada da bala que está alojada na coluna, pois, se ela continuar onde está, há risco da lesão medular se ampliar. Ele resiste, não quer parar o curso agora. Leandro não quer deixar a formatura para depois.

“Eu decidi ser médico vendo o sofrimento das pessoas no hospital, enquanto eu mesmo fiquei internado e passava por dores horríveis emocionais e físicas. Quero fazer algo para melhorar a saúde no Brasil, para diminuir a falta de acessos a cuidados de qualidade”, disse o estudante.

A família de Leandro passa dificuldades financeiras para manter a rotina do estudante. Ele mora em uma quitinete próximo a UFPI, com a mãe e a cuidadora dele, de 44 anos. A família paga R$ 450 de aluguel e gasta mais R$ 1.600 por mês com a ambulância que desloca Leandro até a Universidade.

O problema é que o pai do estudante só ganha R$ 1.400 por mês trabalhando como caminhoneiro. Para ajudar nas despesas, os colegas de curso realizaram uma vaquinha e conseguiram arrecadar R$ 28 mil.

Mas não deve durar muito, porque além de servir para ajudar nas despesas, Leandro precisa comprar uma cadeira de rodas e fazer uma cirurgia para fechar uma ferida que surgiu nádegas, o que não tem conseguido fazer pelo SUS.

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