Festival Edésio Santos começa nesta quinta-feira (29) em Juazeiro; saiba mais sobre o homem que dá nome ao evento

Edésio Santos nasceu na cidade de Afrânio, Pernambuco, em 1931, mas foi em Juazeiro que viveu durante toda sua vida. (Foto: Divulgação/ASCOM)

O Festival Edésio Santos da Canção (FESC) está em sua 21° edição, mas nem todo juazeirense conhece a história do homem que dá nome ao evento: Edésio Raimundo dos Santos. Negro, ajudante de pedreiro, engraxate, relojoeiro, funcionário público, cantor e compositor. Amigo e companheiro de João Gilberto, que mesmo não tendo sido reconhecido nacional e internacionalmente, tem grande influência musical na cidade de Juazeiro.

Edésio Santos nasceu na cidade de Afrânio, Pernambuco, em 1931, mas foi em Juazeiro que viveu durante toda sua vida. Amava a música. Participou de grupos musicais como o Sambossa na década de 1960, acompanhou artistas consagrados que se apresentaram em Juazeiro e região e comandou o primeiro trio elétrico no  carnaval da cidade, apenas com músicas instrumentais, sem cantores. A amizade com João Gilberto fez muita gente crer que Edésio teria ‘ensinado’ João a tocar violão no ritmo do que depois se consolidou como bossa nova.

“Conheci Edésio nos anos de 1960. Ele era relojoeiro e consertou um relógio meu. Sempre falava que nunca ensinou nada a João. Contava que se reunia no Cais com Pedrito, Seu Galo e João Gilberto já chegava sempre com uma coisa nova. ‘Quem ensinou alguma coisa a João Gilberto?’, era o que dizia Edésio. Tocaram juntos, foram amigos. Um negro e pobre, o outro branco e rico. A música os uniu”, concluiu o amigo e músico em comum Maurício Dias, atual superintendente de Cultura e Turismo. 

A jornalista Sibelle Fonseca também teve uma relação mais próxima com Edésio, numa paternal convivência. “No final da década de 1980, durante o Festival ‘O Som das Margens do Sol – Troféu João Gilberto’, Edésio procurava uma intérprete para a canção que iria inscrever. Arlinda Maia e Esmelinda Pergentino, que trabalhavam na Secretaria de Cultura junto comigo, sugeriram meu nome. Nós não nos conhecíamos e ele ficou desconfiado. Mesmo assim me entregou a fita cassete, que eu ouvi e levei dois dias para aprender. A nossa primeira parceria resultou no segundo lugar no Festival e eu como melhor intérprete. A partir daí não nos deixamos mais”, conta emocionada.

Sibelle e Edésio formaram uma dupla de voz e violão e se apresentaram em muitos lugares e também gravaram uma música, de autoria de Edésio, em um estúdio profissional na cidade de Salvador. “Foi um pilar forte em minha construção intelectual, musical e moral. Uma referência que me dignifica. A realização desse festival que leva seu nome é mais que uma obrigação, uma justa devoção a um homem que amou essa cidade como se sua fosse e que soube retribuir a acolhida com música e poesia, fazendo Juazeiro ser uma cidade especial. Edésio partiu, mas é desse tipo de gente eternizado em nossas vidas e como símbolo cultural da cidade”, afirma Sibelle.

Edésio Santos morreu no ano de 1998, com 67 anos. Sua única frustração foi nunca ter gravado um vinil com as composições autorais. E em respeito à memória e à contribuição de Edésio enquanto patrimônio cultura da cidade, a Prefeitura de Juazeiro, desde 2009, vem fortalecendo e melhorando a cada ano esse importante Festival que já se consolidou como um dos maiores do interior do Nordeste e com participações de artistas de todo o Brasil.

O FESC tem 24 canções que concorrem ao prêmio total de R$33 mil. Hoje (29) 12 canções são apresentadas; na sexta-feira (30) mais 12 músicas serão interpretadas. Toda a programação do festival acontece no Centro de Cultura João Gilberto a partir das 20h. O cantor baiano Luiz Caldas fará o show de encerramento, numa homenagem aos 60 anos da Bossa Nova. Império Afro, Camilla Yasmine e Deijane Dieh também irão se apresentar no festival.

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