Três pessoas são baleadas no interior da Bahia; suspeita é que ação tenha sido provocada por grileiros de terra

Três pessoas foram baleadas na madrugada de sábado (2), na zona rural de Campo Alegre de Lourdes, região Norte da Bahia. A suspeita é que o crime tenha relação com a grilagem de terra. A ação foi registrada na comunidade de Angico Dias.

As vítimas foram socorridas e levadas para um hospital da cidade de São Raimundo Nonato (PI). A Polícia Civil, através da Delegacia Territorial (DT) de Campo Alegre de Lourdes investiga o caso.

Casa Nova: comunidades tradicionais de fundo de pasto realizam Caminhada em Defesa da Terra

Na manhã do último domingo (13), comunidades tradicionais de fundo de pasto da região de Lagoa da Caatinga, em Casa Nova (BA), realizaram uma Caminhada em Defesa da Terra, com o objetivo de chamar a atenção da população sobre uma tentativa de grilagem que vem ameaçando o território. O ato, que teve início próximo às residências dos/as trabalhadores/as rurais, seguiu até a margem do rio, percorrendo o trajeto da cerca instalada pelo grileiro no início deste ano.

Ao fim da Caminhada, em meio às orações, cânticos e depoimentos, os/as moradores/as foram surpreendidos com a presença do senhor Antônio Maciel, dono de uma oficina na sede do município e responsável pela instalação das cercas irregulares no território das comunidades. Como forma de intimidar as famílias camponesas, ele filmou tudo que acontecia, inclusive crianças que tomavam banho no rio.

De acordo com os moradores/as locais, o processo de grilagem de terras na região ocorre há mais de 10 anos. Em 2012, o Antônio Maciel tentou cercar uma área do fundo de pasto de Lagoa de Caatinga e a comunidade não deixou. O empresário chegou até a mover uma ação na justiça para impedir o uso da terra pelas comunidades, mas o pedido foi negado e o juiz responsável pelo caso determinou que ninguém mexesse na área.

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Movimentos sociais e ambientalistas querem derrubada da ‘MP da Grilagem’

Movimentos sociais e organizações sociais estão mobilizando uma campanha virtual para evitar a aprovação da Medida Provisória (MP) 910, conhecida como “MP da Grilagem”. Editada em dezembro pelo presidente Jair Bolsonaro, a MP facilita a concessão de títulos de propriedades rurais a ocupantes de terras da União. A previsão é que a proposta seja votada ainda nesta segunda-feira (11), na Câmara dos Deputados.

A medida prevê a regularização de imóveis de até 2.500 hectares (aproximadamente 2.500 campos de futebol), em áreas sensíveis da Amazônia e do Cerrado. Ocupações irregulares de até 1.650 hectares podem ser oficializadas apenas com uma autodeclaração, sem a efetiva fiscalização.

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Grilagem de terra em Campo Alegre de Lourdes pode expulsar famílias de seu território

Desde o final de janeiro, as comunidades, que já são impactadas pela mineradora Yara/Galvani, estão vivendo um clima de tensão e insegurança. Segundo os integrantes da Associação de Fundo de Pasto das comunidades de Angico dos Dias e Açu, no município de Campo Alegre de Lourdes (BA), pessoas sem autorização estão medindo a área coletiva e ameaçando os trabalhadores rurais, dizendo que estes não têm terras e que serão expulsos do local.

Famílias camponesas da região do Angico dos Dias, formada por oito comunidades e localizada a cerca de 70 Km da sede de Campo Alegre de Lourdes, são alvo, mais uma vez, de ameaças de expulsão do território. Uma grilagem de terras de 83 mil hectares, que abrange a região noroeste do município e parte de Pilão Arcado, está colocando em risco o jeito de viver tradicional das comunidades de fundo de pasto que vivem há várias gerações no local.

“Tão medindo as terras, eles vão de dia e de noite fazer o variante”, diz Dona Maria de Souza, 70 anos, que nasceu e foi criada na comunidade do Angico dos Dias junto com dez irmãos. Com as ameaças constantes, a rotina na comunidade não é mais a mesma. “Eu não tô conseguindo mais ir trabalhar por causa do medo de ir sozinho pra roça”, afirma Seu Salvador Mendes, membro da Associação.

De acordo com relatos dos associados, as pessoas que estão ameaçando a comunidade dizem estar a mando de José Dias Soares, conhecido como Zé do Salvo e que mora na região, e do empresário português Carlos Manuel Subtil Duarte.

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