40 anos sem Elis Regina: Ela é a ‘régua pela qual se mede’ cantores, diz autor de biografia da artista

Mesmo 40 anos após sua morte, Elis Regina segue sendo referência para cantores e intérpretes no Brasil, diz o músico e escritor Arthur de Faria, autor de “Elis: Uma Biografia Musical”, publicada em 2015.

“Ela consegue esse fenômeno 40 anos depois de morta, de ser o parâmetro, a régua pela qual se mede todos os outros intérpretes. Isso não é pouca coisa”, afirma, ao g1.

 

A cantora nascida em Porto Alegre faleceu em 19 de janeiro de 1982, em São Paulo, meses antes de completar 37 anos. Deixou três filhos e um legado de apresentações históricas, discos que venderam milhões e a popularidade de uma das artistas mais famosas dos anos 60 e 70.

Para o biógrafo, Elis pode ser comparada a nomes como Mercedes Sosa e Frank Sinatra pelo domínio não somente no canto, mas também da interpretação.

“É uma combinação muito rara nesse nível, de cantor e intérprete. A Elis tinha no nível 10 as duas coisas, é muito difícil”, diz.

O cantor está ligado ao ofício, ao instrumento, que é a voz, explica Arthur. “Preocupado em emitir essa voz da forma mais perfeita possível, com a qualidade da respiração, da emissão, do timbre. A Elis tinha isso no nível dez”, afirma.

Elis também tinha ouvido absoluto, que é a capacidade de identificar imediatamente uma nota ao ouvi-la, o que o biógrafo descobriu entrevistando Rita Lee, enquanto escrevia a biografia. “Não tem nada a ver com ser músico ou não. Um monte de gente que não é músico e tem, maioria dos músicos não tem. Isso é muito raro.

Não à toa Elis gravava os discos junto com os músicos. A rapidez com que os discos eram gravados é conhecida. “Sempre matava discos em 4 horas ‘Falso Brilhante’ foi gravado em 4 horas, um take pra cada música, a única que precisou de dois takes foi Velha Roupa Colorida'”.

“Mesmo na época da Elis tinha pelo menos outras duas grandes cantoras, que são a Gal e Maria Bethânia e uma grande intérprete que é a Nara Leão”, diz.

Já o intérprete envolve a forma com que o cantor apresenta a música. “Pode ser um cantor, bailarino interpretando uma coreografia, um ator interpretando texto. [o intérprete] Tá focado no texto, no que tá se dizendo, tá inteiro ali. Tem grandes intérpretes que não são grandes cantores. É outra coisa”, afirma.

Quando Elis se apresentava, deixava o público vidrado. Arthur lembra um show no Festival Midem, na França, em 1969, antes do grupo Supremes. “Ficou ruim pra Supremes. Com Diana Ross e tudo”, diz.

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