Após ouvida de testemunhas e de perito, julgamento entra no terceiro dia com ouvida dos réus

O promotor de Justiça foi morto no dia 14 de outubro de 2013, na PE300, na altura do KM 19, sentido município de Itaíba (Agreste)./ Foto: internet

O promotor de Justiça foi morto no dia 14 de outubro de 2013, na PE300, na altura do KM 19, sentido município de Itaíba (Agreste)./ Foto: internet

No terceiro dia do julgamento dos acusados pela morte do promotor de Justiça Thiago Faria Soares, a Justiça dá início à ouvida dos réus José Maria Pedro Rosendo Barbosa, Adeildo Ferreira dos Santos e José Marisvaldo Vítor da Silva. A previsão é de que os debates entre acusação e defesa ocorram somente nesta quinta-feira (27), no Fórum Ministro Artur Marinho, sede da Justiça Federal em Pernambuco, no Recife.

Na terça-feira (25) foram concluídos os depoimentos das testemunhas arroladas pelas partes. A primeira a ser ouvida foi a tia de Mysheva Martins, Cláudia Tenório, que afirmou ter administrado por um ano e quatro meses a Fazenda Nova, que foi objeto de disputa entre as famílias de Mysheva e do réu José Maria Rosendo.

Perante os jurados, Cláudia Tenório confirmou que o réu era conhecido como uma pessoa perigosa entre os moradores de Águas Belas e que explorava comercialmente as fontes de água da Fazenda Nova através da venda de carros-pipa. Ela inclusive alegou já ter comprado água vendida pelo réu, ao valor de 30 reais por mil litros de água.

Em seguida foi chamado o cunhado de José Maria Rosendo, Carlos Roberto Ubirajara. Ele negou que o réu fosse uma pessoa envolvida com práticas criminosas e assegurou, contrariamente ao que disse a testemunha anterior, que na Fazenda Nova não eram desenvolvidas atividades econômicas lucrativas. Como essa informação foi considerada contraditória em relação aos testemunhos de Cláudia Tenório e do delegado da Polícia Federal Alexandre Alves, a juíza Amanda Torres Diniz Araújo informou que a acusação vai poder formular um quesito específico sobre o assunto para os jurados, que além de decidir sobre a culpabilidade dos réus, também vai se posicionar quanto à conduta da testemunha. Caso os jurados decidam que Carlos Roberto Ubirajara mentiu em plenário, a Polícia Federal deverá instaurar um inquérito contra ele.

Os depoimentos seguintes foram prestados por Paulo Ferreira dos Santos e Audálio José dos Santos, respectivamente irmão e pai do réu Adeildo Ferreira dos Santos. Ambos explicaram que o réu era agricultor, exercendo suas atividades nas terras da sua família e no sítio do réu José Maria Domingos Cavalcante, cujo julgamento foi adiado para o dia 12 de dezembro. Também foram ouvidos Maria Helena de Moura e o agente comunitário de saúde Ismael Gregório dos Santos.

No final da tarde da terça-feira o perito federal Carlos Eduardo Palhares Machado apresentou esclarecimentos sobre o trabalho de reprodução simulada dos eventos ocorridos no dia do crime contra Thiago Faria, sua noiva Mysheva Martins e o tio dela, Adautivo Martins. Segundo ele, as provas periciais foram solicitadas pelo Ministério Público Federal (MPF) para verificar se havia compatibilidade entre os depoimentos de Mysheva e Adautivo com as conclusões decorrentes da análise do corpo da vítima fatal e do veículo em que eles se encontravam quando dos disparos de arma de fogo.

“A versão de Mysheva foi compatível com todos os elementos periciais obtidos com base na análise dos danos ao veículo. Também foi possível identificar diferenças entre os laudos da perícia estadual e os realizados a pedido do MPF”, declarou Carlos Eduardo Machado. Dentre as divergências estão a quantidade de disparos efetuados em direção ao veículo e a sequência dos tiros.

Ainda segundo o perito, a reprodução simulada permitiu a constatação de que os disparos de espingarda calibre 12 foram efetuados a curta distância do vidro do carro, em uma angulação compatível com a descrição de Mysheva, que disse em seu depoimento ter visto uma pessoa se projetando pela janela do veículo dos atiradores. Também não foram encontrados, segundo o laudo, indícios do uso de outra arma de fogo.

Cooperação – os promotores de Justiça André Rabelo e Antônio Arroxelas, designados para acompanhar o julgamento como membros do Ministério Público de Pernambuco (MPPE), explicaram que se reuniram desde a última semana com os procuradores da República para prestar todo o auxílio necessário.

Em relação aos depoimentos já prestados, André Rabelo destacou que “o que já foi apresentado de provas e oitivas nos permite entender que houve a efetiva participação de todos os réus no crime, o que robustece a acusação”.

Por fim, ele também comentou sobre as declarações de Mysheva Martins, que informou que o promotor Thiago Faria teria feito uso do cargo de membro do MPPE para agilizar o andamento das pendências judiciais relativas ao leilão de parte da Fazenda Nova, vencido pela ex-noiva dele. “Uma das preocupações do Ministério Público é manter a atuação do membro dentro do que preza nossa Lei Orgânica. O MPPE agiu para preservar a integridade de Thiago Faria e hoje não é diferente. Ele já pagou com a vida e não podemos permitir que sua imagem seja escamoteada perante a opinião pública”, concluiu.

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