Participação da família e dos educadores é crucial no combate ao bullying, segundo especialistas

Para a pesquisadora da Unesp Luciene Tognetta, a falha está na educação na escola e dentro de casa. (Foto: Ilustração)

Na última sexta-feira (20), um adolescente de 14 anos realizou diversos disparos com arma de fogo contra colegas de escola deixando dois mortos e quatro feridos no Colégio Goyases, em Goiânia (GO). Ao que tudo indica, o bullying sofrido pelo jovem o teria motivado a realizar os disparos.

Bullying é um termo utilizado para descrever atos de violência física ou psicológica intencionais e repetidos, praticados por um indivíduo ou grupo de indivíduos, causando dor e angústia, sendo executadas dentro de uma relação desigual de poder e que, geralmente deixa sequelas psicológicas na pessoa atingida.

Contudo, para o psicoterapeuta clínico de crianças, Jordan Campos, o bullying não foi a principal causa do atentado em Goiânia. “O motivo pelo qual o jovem assassinou seus colegas é um conjunto de fatores na formação de sua personalidade sob responsabilidade de seus pais. O gatilho que deu o start em seu plano de matar pode ter surgido da provocação de seus colegas, sim”, diz o especialista.

Ainda segundo Jordan Campos, a ação do atirador está ligada à sua formação de personalidade, filosofia de vida, exemplos e criação. A atitude do garoto poderia acontecer a qualquer momento.

“O garoto matou porque tinha na sua formação de personalidade uma espécie de autorização para fazer. A identidade deste jovem de 14 anos estava formada em um alicerce que permitia isso. Ele provavelmente iria fazer isso logo, logo…. Na escola, com o vizinho, na briga de trânsito ou com a namorada que terminasse com ele, e isso nada tem a ver com Bullying. A provocação foi apenas o motivo para ‘fazer o que já se era’”.

Em abril de 1999, Eric Harris e Dylan Klebold de 18 e 17 anos, foram responsáveis pela morte de 13 pessoas no Massacre de Columbine, que deixou outras 24 pessoas feridas, no Colorado, Estados Unidos. Em abril de 2011, Wellington Menezes de Oliveira, de 23 anos, atirou e matou 12 estudantes, deixando outros 13 feridos.

Os dois casos foram usados como inspiração para o adolescente de Goiânia, segundo a grande mídia. Para a pesquisadora da Unesp Luciene Tognetta, a falha está na educação na escola e dentro de casa.

“Nessa situação falharam os pais e falhou a escola. E quem vai pagar são as vítimas e o menino que fez os disparos, que também vai ter sua vida destruída. Alguém falhou com ele. Enquanto estivermos fazendo apenas campanhas de “Diga não ao bullying” e as políticas públicas não estiverem voltadas de fato para projetos sistematizados a partir de investigações e não de senso comum, continuaremos vendo casos assim”, alertou a especialista.

o Programa de Combate à Intimidação Sistemática (Bullying), foi instituido em novembro de 2015, por Dilma Rousseff, através da LEI Nº 13.185, que assegura praticas de prevenção e combate, através de campanhas de educação, conscientização e informação.

Entretanto para a especialista, Luciene Tognetta não há incentivo para pesquisar e nem para o combate, de forma incisiva no Brasil. “Não temos incentivos a políticas públicas sobre o tema, porque também não temos incentivo a pesquisas na área de ciências humanas no Brasil. É necessário deixar claro que, infelizmente, neste país, temos um atraso terrível em pensar questões de convivência na escola”, desabafa a pesquisadora.

A formação dos educadores e a atenção dos pais, são a curto prazo a solução para o combate ao bullying, tanto para quem prática, quanto para quem é vítima. “Os meninos que fazem bullying são crianças que têm comportamento agressivo, podem até ser ex-vítimas e, geralmente, têm pais que reforçam esse comportamento, porque acham legal que o filho comande a turma. Se a criança tem um temperamento forte, se quer fazer as brincadeiras somente do jeito dela, isso pode ser um indício”, alerta o psiquiatra infantil Fabio Barbirato.

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