“Efetivo não é fator que vai prejudicar nosso trabalho. Buscar parcerias é a grande solução”, afirma comandante do 5º Batalhão da PM, em Petrolina

"Polícia tem que estar junto do povo, da sociedade,participando de reuniões, indo para as escolas, escolhendo territórios mais sensíveis", destaca tenente coronel Ricardo Peres/Foto: Blog WP

“Polícia tem que estar junto do povo, da sociedade,participando de reuniões, indo para as escolas, escolhendo territórios mais sensíveis”, destaca tenente coronel Ricardo Peres/Foto: Blog WP

À frente do comando do 5º Batalhão da PM desde novembro de 2015, o tenente coronel Ricardo Peres conhece bem os mecanismos que fazem o setor da segurança pública ter resultados positivos. Em quase uma década atuando especificamente em áreas do sertão, o comandante tem a ciência de que traçar parceria e estimular seus comandados ainda é a melhor fórmula para superar os desafios e reduzir os índices de violência. “O gestor tem que ter estratégia, metodologia e trabalhar com os recursos humanos que tem em mãos. Fazer a coisa fluir e acontecer. Precisamos sempre analisar os contextos sociais e , em cima disso, viabilizar o trabalho, porque tem variantes, crise financeira. Efetivo não é fator que vai prejudicar nosso trabalho. Buscar parcerias é a grande solução, promover o envolvimento de todos os poderes”, avalia Peres.

O tenente coronel recebeu nossa reportagem esta semana para um bate papo sobre demandas sugeridas por nossos leitores e internautas. Confira agora a entrevista na íntegra:

Blog Waldiney Passos – O 5º Batalhão da PM está inserido numa área de reconhecido dinamismo e desenvolvimento sócio-econômico. Isso interfere, de certa forma, na segurança pública. Em patamares atuais, qual o perfil da violência em Petrolina?

Comandante Ricardo Peres – Uma boa pergunta porque nos dá a oportunidade de esclarecermos  aspectos do nosso trabalho. Já próximos de findar esse primeiro  semestre e podemos dizer que tivemos várias etapas diferenciais da violência. No primeiro trimestre verificamos um aumento considerável dos crimes de proximidade, ou seja, conflito na comunidade, crimes afetivos, familiares. Casos bem característicos na região, emblemáticos, porque em sua maioria são crimes que ocorrem dentro de casa. Já a partir de abril vimos este cenário mudar, intensificamos ações preventivas e observamos mais os crimes ocorridos na zona rural, em áreas de projetos, com atuação de grupos; também de adolescentes com práticas criminosas, enfim, já colocamos estes números em seus patamares e tivemos essas evidências.

Blog WP- Petrolina, por si só, já é uma cidade que apresenta várias demandas. Além dela, o 5º BPM atua ainda em  Dormentes e Afrânio. O efetivo é um grande desafio para a realização das atividades cotidianas?

Peres – Olha, essa discussão não considero justa. Há oito anos trabalho no Sertão, entre idas e vindas, e a gente já verificou várias coisas. Não concordo com esse discurso. É necessário investir na inteligência, na qualidade da formação, no preparo do nosso policial, ver como integrar com outros parceiros como Policia Federal, Guarda Municipal, Polícia Rodoviária Federal, Justiça, Polícia Civil; acredito que a integração das forças é que faz ações eficientes. Porque às vezes você pode ter material humano em quantidade, mas não em qualidade ou com pouca produtividade. E um profissional motivado vale por dez. Acredito que o gestor tem que integrar forças, motivar. Várias vezes que passei por aqui, dificilmente você vai me ver apontar para efetivo ou logística como sendo causas para atingirmos ou não os objetivos propostos. O gestor tem que ter estratégia, metodologia e trabalhar com os recursos humanos que tem em mãos. Fazer a coisa fluir e acontecer. Precisamos sempre analisar os contextos sociais e , em cima disso, viabilizar o trabalho, porque tem variantes, crise financeira. Efetivo não é fator que vai prejudicar nosso trabalho. Buscar parcerias é a grande solução, promover o envolvimento de todos os poderes.

Blog WP – O Pacto Pela Vida, implantado por Eduardo Campos, apresentou estatísticas exitosas por um tempo, mas hoje é alvo de reclamações e denúncias por parte de vários segmentos sociais. Qual a sua avaliação sobre o assunto?

Peres- O Pacto Pela Vida é um programa altamente exitoso, sou defensor, com ações reconhecidas internacionalmente, que tem capacidade de mensurar o trabalho do servidor público. Isso é fundamental, hoje vocês podem verificar se um comandante vai bem ou não através das estatísticas apresentadas, porque tem como acompanhar. Antes não existia essa ferramenta. Agora, como todo programa,  tem que ter um momento de revisão. Nós temos reuniões mensais, inclusive com a presença do governador, na Câmara Temática da secretaria de Defesa Social, onde todas as ações são reavaliadas.  Agora não se pode esquecer que o programa vive dentro de um cenário nacional, que hoje é o de crise e a gente precisa se adaptar aos recursos e a realidade de vida do estado, não adianta a gente ficar com o discurso porque em tal período foi desse jeito ou de outro. Temos que construir nossas estratégias  em cima das experiências vividas. Mas sou a favor do programa, é um programa de estado, não de governo. Qualquer situação político-partidária que venha a ganhar eleição vai ter sempre que reavaliar e redefinir estratégias. O Pacto Pela Vida  já foi copiado por outros estados. Trabalhamos de forma técnica, em cima de números.

Blog WP – Há alguns anos atrás foi lançado o Projeto da Polícia Comunitária, no bairro João de Deus, que à época, apresentava índices preocupantes de violência. O modelo deu certo e a ideia era expandir para outras áreas da cidade. Isso ocorreu? Como está o projeto hoje?

Peres – Foi em 2008, salvo engano,. O comandante geral da PM era José Lopes, aqui  em Petrolina o comandante era Coronel Carlos Pereira e eu era o sub comandante. Foi uma ação pioneira, reduziu significativamente as estatísticas. Depois tentamos implantar no José e Maria. Esse modelo avançou, não ficou com aquela estrutura. Hoje temos o Governo Presente, que abrange quatro territórios e representa a união de várias secretarias e suas ações; aqui nós temos a coordenação de professora Francis. Os  territórios são José e Maria, João de Deus, Serrote do Urubu e São Gonçalo. É um trabalho integrado, fruto do polícia comunitária. Hoje temos o trabalho de sargento  Severino, que  atua nas escolas de vários bairros, em Afrânio e Dormentes; tem o PROERD, temos avanços na Câmara de gênero, combate à violência doméstica, contra a mulher. Então aquele projeto tomou uma dimensão muito maior, não existe só naquele bairro, e hoje a gente atua em várias áreas da cidade. Modelo foi aperfeiçoado, ganhou nova roupagem. Polícia tem que estar junto do povo, da sociedade,participando de reuniões, indo para  as escolas, escolhendo territórios mais sensíveis, creio que o modelo foi lançado, mas houve um aperfeiçoamento.

Blog WP- Petrolina ganhou novos residenciais, sobretudo do Programa Minha Casa Minha Vida. Qual o desafio de vocês na condução dos trabalhos diários voltados para estas áreas de grande concentração populacional?

Peres – Assim que assumi o comando, recebi um convite do então secretário de Habitação, Edinaldo Lima, para visitarmos estes bairros novos. Realmente, uma das  nossas preocupações diz respeito a traçar um plano de segurança, porque num primeiro momento isso ainda não havia sido feito. Hoje temos cronogramas de rondas e abordagens. Observamos que foram colocadas pessoas de diversas partes da cidade e vários relacionamentos interpessoais são conflitantes. Nós temos o registro de  várias ocorrências de pessoas que adquiriram imóveis e construíram pontos comerciais, pessoas que tem dificuldades de viver em coletividade. A gente tem feito palestras, feito rondas, participamos de reuniões para a implantação de conselho comunitário. A gente tem preocupação sim, tem se esforçado. Já houve casos de  esfaqueamento de uma grávida; ocorrências de pessoas que divergem entre si e já querem resolver no facão. Situações que a gente como cidadão, como humano, fca perplexo, Mas temos atuado, a prefeitura tem ajudado muito. Procuramos muito trabalhar a cabeça das pessoas. O trabalho de conscientização tem que ser o mais forte nestas áreas.

Blog WP- O senhor falou, no início de nossa entrevista, da importância de parcerias com várias instituições. E como tem sido essa troca de informações e apoio com a comunidade?

Peres – Temos o privilégio do Batalhão ter respeito e credibilidade. Temos muitas parcerias: CDL, Feamupe, mototaxistas, imprensa. Todos os grupos ajudam muito e a comunidade, principalmente, é uma grande parceira.

Blog WP – Vamos começar um dos períodos em que há mais eventos na cidade: o junino. E sempre temos o questionamento de se o efetivo será suficiente para cobrir, além das festas, toda a área do município. Há ainda de encaminharmos efetivo para outras áreas nesta época, a exemplo do que ocorre no Carnaval?

Peres- As pessoas podem ficar tranquilas pois estaremos trabalhando com todo o efetivo. Tanto em fevereiro como junho, todas as férias são suspensas. A previsão nossa de junho seria de 27 dias de festa. Jjá passamos por alguns eventos de grande porte como a Caprishow(Dormentes) e a festa da cidade de Afrânio, Vaquejada. Neste próximo fim de semana vem a Jecana , depois tem Pátio de Eventos e Missa do Vaqueiro. Tudo isso está dentro do nosso planejamento. Vamos mandar vinte e cinco militares para Caruraru, mas nosso efetivo vai dar para atender todos, demandas juninas e o trabalho cotidiano da cidade. Vamos ter recomposição do efetivo que de folga recebe um extra para apoiar nos grandes eventos. A média de lançamento diária de efetivo vai ser boa.

Blog WP- Temos recebido denúncias no Blog Waldiney Passos com relação à frota do quartel, que estaria defasada e apresentando problemas. A informação procede?

Peres- O estado já está em processo de renovação da frota. Essas viaturas são usadas vinte e quatro horas, saiu um motorista, entra outro, um veículo desse é utilizado em todo seu limite. Claro que algumas viaturas estão rodando e podem ter uma quebra maior. A gente para, administra, conserta, vai para a locadora, volta em 15 dias, às vezes  apresenta um outro problema. Enfim, como gestor temos que garantir a integridade de nossos policiais, uma viatura só sai para  rodar com o  aval da locadora e da  oficina. Mas se for um problema mínimo como um aquecimento, por exemplo, que possa rodar e parar para montar um bloqueio, vai funcionar assim até trocarmos a frota. Não posso é deixar um bairro sem viatura. Temos que usar estratégias, usar inteligência e entender nosso senso de responsabilidade.

Blog WP – Quando a gente fala do trabalho da polícia sempre pensamos no público geral, que e a comunidade. Mas que tipo de atendimento tem sido direcionado para o PM que vai às ruas todo dia? Como esse profissional pode se sentir amparado pela instituição?

Peres-O maior sentido que a gente busca colocar no nosso trabalho é primeiro conscientizar o policial da importância dele dentro do sistema de segurança. O PM é fundamental porque, como empresa, nosso cliente maior é a população, que quer se sentir segura. O policial precisa entender que o trabalho dele gera qualidade de vida e que ele trabalha também para a proteção de sua família, que está inserida na sociedade. Num segundo momento  a gente procura mostrar que,  de uma forma ou outra, este segmento integra o rol de funcionários públicos, somos privilegiados. Em um país que apresenta hoje quase doze milhões de desempregados, saber que se tem um emprego, tem um objetivo, isso também deve nos motivar. Geramos qualidade de vida para as pessoas numa sociedade que hoje está  complicada. Se o nosso PM entende isso, vai ter orgulho e trabalhar melhor. O diálogo dentro da instituição tem melhorado, as pessoas entram dialogam, ouvimos as propostas, fazemos planejamento. Todos participam e todos ganham.

Da Redação Blog WP

Um Comentário

  • Antonio Barros de Souza Filho

    10 de junho de 2016 at 04:10

    Na verdade não de faz segurança,com palavras e sim com ações práticas,tenho buscado esse método aqui em são Lourenço mas não tenho o reconhecimento nem o apoio e vejo cada dia aumentando a violência

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