Eleição definirá lista tríplice para a sucessão de Janot na PGR

Alçada nos últimos anos a um dos cargos mais poderosos do país, a chefia do Ministério Público Federal muda a partir de hoje. Os três nomes mais votados pelos procuradores, em eleição que termina no início da noite, vão formar a lista de candidatos à sucessão do atual procurador-geral da República, Rodrigo Janot.

Interlocutores da Procuradoria-Geral da República têm sinalizado que essa é uma disputa sem precedentes na história do órgão, tendo em vista as divisões políticas resultantes do destaque conquistado por Janot em vários processos, principalmente nas recentes acusações envolvendo o presidente da República, Michel Temer, justamente quem nomeará o futuro chefe da PGR. Os subprocuradores Raquel Dodge e Mario Bonsaglia são os mais cotados ao cargo. Nicolao Dino e Sandra Cureau também disputam uma vaga na lista tríplice que será enviada ao Palácio do Planalto.
Os oito candidatos participaram dos debates promovidos em cinco capitais pela Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR), que organiza o pleito. Todos os postulantes concordaram nos encontros que, havendo indícios de crimes praticados pelo presidente Michel Temer no exercício do mandato, cabe ao procurador-geral da República instaurar a investigação.
Mesmo assim, há candidatos que têm maior simpatia do Planalto e dos caciques do PMDB, partido de Temer. Raquel Dodge é certa como um dos nomes da lista. Isso porque ela tem um perfil mais moderado, ao contrário de Janot, e tem feito críticas ao que classifica de excessos nas investigações da Lava-Jato. Dodge está na disputa desde 2005, recebeu 402 votos em 2015. Outro nome que se tornou favorito no Planalto e entre aliados de Temer é o de Mario Bonsaglia, que, assim como Dodge, é considerado aberto ao diálogo.
Por sua vez, Nicolao Dino é o nome preferido de Rodrigo Janot e daqueles que apoiam o atual procurador-geral da República. Dino, que é também vice-procurador-geral eleitoral, defendeu que havia “elementos robustos” para a cassação da chapa Dilma-Temer na ocasião do julgamento do TSE. Os subprocuradores Carlos Frederico, que fez oposição a Janot na última eleição, Franklin Costa e Eitel Santiago são considerados surpresas na disputa deste ano.
A decisão de qual dos três nomes da lista vai comandar o órgão ficará nas mãos de Michel Temer, o que tem preocupado o Ministério Público sobre possíveis interferências nos rumos da Operação Lava-Jato. Isso porque, ao longo de seus dois mandatos, a forma como Janot conduziu os processos ampliou críticas de dezenas de políticos investigados pela Polícia Federal e pelo MP.
Michel Temer não é obrigado a escolher o primeiro nome da lista. É possível, inclusive, que o presidente descarte as opções da lista tríplice e nomeie alguém de sua preferência. Por outro lado, essa atitude romperia a tradição das eleições da PGR, ocorridas nas gestões dos presidentes Lula e Dilma, de nomear o mais votado para o cargo.
Em março, Temer chegou a declarar que analisaria a lista, mas que não havia previsão constitucional que o obrigasse a segui-la. No entanto, de acordo com o presidente da ANPR, José Robalinho, o peemedebista garantiu que vai respeitar a escolha dos procuradores. “Eu confio na palavra do presidente. A lista tríplice do MPF existe há uma década, é um processo consolidado no país.”
E Robalinho acrescentou: “O presidente tem o crivo para escolher um dos três candidatos indicados pelos procuradores. Ainda que o nome com mais votos indique maior representatividade em meio à categoria, não é uma expectativa que, obrigatoriamente o primeiro nome da lista seja o indicado à sucessão”.

Deixe um comentário