Juazeirense usa Facebook para falar da luta contra leucemia

blogueira

Edeilde Lopes tinha 15 anos quando acordou sentindo-se diferente. Os ossos do corpo inteiro doiam. As dificuldades para levantar da cama eram imensas. O apetite aos poucos sumiu, enquanto manchas tomaram conta de sua pele. Um cenário bem diferente da noite anterior, quando ela conversava com pessoas da mesma idade animadamente. Edeilde sempre foi uma adolescente disposta, com saúde. Não entendia os últimos acontecimentos com o próprio organismo. Os meses seguintes foram de dúvida, de um sofrimento compreensível.

O diagnóstico veio tão rápido quanto surpreendente. Edeilde tinha leucemia linfóide aguda, a neoplasia mais comum em crianças e ao mesmo tempo a que tem os maiores percentuais de cura, chegando até a 80%. A adolescente era muito jovem para compreender previsões médicas. Tudo aquilo não fazia parte de seus planos. Nascida em Juazeiro, na Bahia, deixou para trás a possibilidade de cursar direito na Universidade Federal da Bahia e mudou-se com a família para a pernambucana Petrolina por conta da oferta do serviço de Tratamento Fora de Domicílio.

Uma vez por semana, às segundas-feiras, a estudante, hoje com 22 anos, ainda vem ao Recife para acompanhamento médico. Viaja em um ônibus da empresa Progresso, cuja passagem é paga pelo governo federal. Os cuidados ainda precisam ser tomados porque em 2014 ela viveu a volta da doença, dois anos depois do fim do tratamento. Segundo os médicos, isso acontece com cerca de 20% dos pacientes. Hoje ela reage bem à quimioterapia. Não precisa de um transplante de medula óssea, como chegou a ser cogitado pela equipe médica. Espera nunca mais escutar de um médico despreparado que “daquele dia não passará”.

Em outubro de 2015, Edeilde teve a ideia de contar sua trajetória no Facebook. Criou a página História de uma leucêmica. No espaço, posta sua rotina de tratamento, lamenta perdas de amigos também doentes, comemora melhoras, lamenta pioras. “Olha o rostinho de quem tá bem melhor!! Ufaaa.. A boca tá melhor de tudo, viva… Agora eu só quero voltar pra casa. Mas um passo de cada vez. Só de estar me sentindo bem, já está de bom tamanho! Deus, obrigado!!”, diz, em uma de suas postagens, no dia 9 de março.

Um dia de cada vez. Nada de planos distantes, ensina Edeilde. Em 26 de fevereiro, a jovem contava de suas dores. “A quimioterapia vem me maltratando de uma tal forma, que às vezes bate o desespero… A sensação de impotência, de derrota… Enfim, é ruim… Duas semana sem comer, só no líquido é fogo. Quando, na verdade, eu queria mesmo era comer feijão com farinha, um cuscuzão, um copão de coca cola, uma buchada, pizza”.

A página, diz ela, ajuda a enfrentar de forma positiva a convivência com a leucemia. “Também acho que ajudo muitas pessoas. Tem gente que vem me conhecer para tirar dúvidas, saber como é minha rotina. Muitos têm parentes doentes. Certa vez, um homem me perguntou se a leucemia é contagiosa. Respondi que o que eu tenho não pega no senhor, mas o que o senhor tem eu posso pegar, como uma gripe”, lembra. Hoje a página tem 447 curtidas. Tornou-se um escudo poderoso no processo de cura. Sinônimo de esperança para outras pessoas em busca da recuperação da saúde.

Para a onco-hematologista Mecneide Lins, que acompanha o tratamento de Edeilde desde o início, a página no Facebook tem um papel importante na recuperação do paciente com câncer. “O fato de ela conversar, botar para fora, interagir sobre a doença é ótimo”, pontua.

Segundo a especialista, logo quando recebem o diagnóstico, as crianças e adolescentes costumam sentir susto e revolta. O cenário começa a mudar quando convivem com outros pacientes, percebem as possibilidades de melhora e de tocar a vida. “Os jovens são pegos em um momento de mudança, no auge da vaidade, e de repente percebem a queda dos cabelos em virtude da quimioterapia”, reflete.

Doença chega em fase delicada

Mecneide explica que as causas do câncer em crianças ainda são um mistério porque, ao contrário de adultos, elas não sofrem fatores externos como uso de cigarro, por exemplo. Imagina-se fatores genéticos, como alteração no processo de divisão celular.
Em Pernambuco, são esperados, por ano, 400 diagnósticos de câncer infantil, ou seja, na faixa etária abaixo dos 19 anos. Desses, 120 casos são de variados tipos de leucemia, sendo 75% de leucemia linfóide. “É preciso desmistificar essa doença. O câncer não é igual à morte. É curável”, diz Mecneide

Diário de Pernambuco

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