Sou filha da rainha dos raios, muito prazer

iansã orixá

Sim! Hoje é dia da liberdade de culto religioso, mas o que se quer deixar marcado nesse dia? De que posição se fala quando há uma propensão ao respeito à liberdade de culto? E por que falar sobre liberdade de culto? Visto que, constitucionalmente falando, essa liberdade apresenta-se como um direito adquirido e, por conseguinte, não violável.

O que se pretende marcar, neste dia, vem sendo ferrado – como se ferra um bicho, ou como se ferrava, já que essa prática desumana, agride os direitos dos animais – no corpo de cidadãos brasileiros que distam da norma judaico-cristã, e além, que, ainda que acorbertados pelo seu direito de crença são apedrejados, espancados, invadidios, violados em suas crenças e em sua fé.

O que se pretende demarcar são corpos e altares destruídos pela intolerância, são assentamentos inteiros quebrados, são casas completamente tomadas pelo fogo e, acima de qualquer dessas perdas materiais – danosas, claramente – são crenças e sujeitos desrespeitados, em prol de um deus único, castrador e intolerante que certamente não o é nem  tem culpa alguma do que seus filhos executam.

Uma menina, várias pedras, casas e mais casas estilhaçadas, agressões cada vez mais comuns e frequentes e poucas vozes falando a respeito, e pode-se dizer, menos ainda ouvidos querendo atentar-se para esses fatos. São terreiros inteiros sendo violados e sujeitos, em seus mais diversos credos, sendo apedrejados, com pedras de minério, com vozes ou com facas – há, sobretudo, um apedrejamento moral desses sujeitos.

Não é só pelo povo de terreiro, pelos candomblecistas, umbandistas e quimbandistas, é por todo sujeito que se encolhe diante de uma autoridade cristã, pois tem medo das retaliações, é por todas as guias escondidas – belas guias, que deveriam adornar os corpos com orgulho e graciosidade, pois é a jóia do Orixá que se carrega junto ao peito, como proteção e companhia – pelas palavras silenciadas, pelos absurdos escutados à respeito das vestimentas ou dos cultos, ou apenas de uma roupa branca nas sextas-feiras, é pelas agressões verbais e físicas que a diversidade religiosa tem sofrido, é por todos esses sim, mas é, sobretudo, pelos que lutam e militam pela causa, que querem que liberdade de culto religioso não seja apenas um dia, mas uma maneira íntegra de encarar um direito cidadão, constitucional e, acima de tudo, humano.

Hoje é quarta, e, aqui, expresso minha crença pessoal, esperando que nesse dia, nessa quarta, de Oyá e Xangô, possa prevalecer a força de minha mãe e a justiça de meu pai!

Axé para quem é de Axé, Shalom para quem é de Shalom, Namastê para quem é de Namastê, Amém para quem é de Amém, e, sobretudo, paz, para que todos sejam de paz!

Glaycianny Pires Alves Lira

* Adepta do Candomblé

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