Penitentes de Juazeiro há mais de 50 anos alimentando Almas com cânticos e rezas

Penitentes

Há 51 anos, a noite da Terça-Feira Santa é dedicada à visita dos Madeiros das Alimentadeiras das Almas de Juazeiro-BA. Tudo começou no dia 9 de abril de 1964. Sem que houvesse explicação e a mínima possibilidade de defesa, a polícia adentrou o Sindicato dos Trabalhadores na Indústria da Construção Civil, dirigido por Francisco Mariano Ribeiro, e o levou preso. Em frente à delegacia, onde hoje é o Terminal de ônibus de Juazeiro, os presos políticos iam se amontoando.

Foi quando Maria Veada, chefe do cordão de Alimentadeiras das Almas mais antigo de Juazeiro, o do bairro Santo Antônio (Atrás da Banca), pediu a dona Emília para, juntas, rezarem uma oração àqueles inocentes filhos de Deus. “Os braços assim, o pau por aqui, amarrado a corda pra jogar dentro do carro”, recordou dona Emília fazendo o gesto de quem é atado a um Pau-de-arara – Instrumento de tortura largamente usado no período da ditadura militar brasileira (1964-1985).

“Maria Veada sentou o joelho no chão e pediu aos braços do Santo Madeiro que cortasse aquelas cordas, que, se eles viessem pra dentro de casa, que ela ia fazer a visita ao Cruzeiro do Maringá. Meu filho, não passou um mês e voltou todo mundo”, me contou dona Emília. Da promessa de Maria Veada, surgiu a tradicional visita dos Madeiros das Alimentadeiras das Almas. Quando havia três cordões, era sempre entoado o bendito, sugestivamente intitulado, “A Independência dos três Madeiros”.

Nesta Terça-Feira Santa, dia 22 de março do ano da graça de 2016, o som ininterrupto da Matraca e a fumaça do Incenso anunciaram a chegada do Madeiro Sagrado do Alto da Maravilha à Casa de Oração do Santo Antônio. Emparelhados, os dois Cordões seguiram em direção ao Cruzeiro do Maringá para rezarem o Pranto de Nossa Senhora.

Quatro meses após a morte de dona Emília, seguem cumprindo a promessa selada entre ela, Maria Veada e o Santo Madeiro em um momento de fé e luta, que revela, entre os mistérios da vida e da morte, uma sentença inexorável: É preciso resistir!

As Alimentadeiras das Almas resistem…

Por Luís Osete Carvalho, jornalista.