25 anos sem Chico Science: Como o legado do gênio está presente nas novas gerações

Há exatos 25 anos, em 2 de fevereiro de 1997, o Brasil recebeu a notícia de que Chico Science havia morrido em um acidente de automóvel no Recife. A morte precoce do precursor do manguebeat consternou os brasileiros, mas sobretudo os pernambucanos. Afinal, partiu o personagem central da ebulição que tirou o Estado de um marasmo cultural, recolocando-o na rota da música brasileira e da cultura pop nacional.

O seu legado continuou fomentando toda uma cena artística. Diretamente, nomes já bastante conhecidos do manguebeat, como Mundo Livre S/A, Eddie, Sheik Tosado, Mestre Ambrósio, Comadre Fulozinha e muitos outros. Indiretamente, esse leque se amplia até a atualidade.

O manguebeat, da forma como ficou conhecido, foi um fenômeno de uma época com suas especificidades: as grandes gravadoras ditavam muito mais o jogo, a imprensa tradicional era a única forma de se comunicar com as massas. Em resumo, a mídia ainda era analógica.

Os impactos da aceleração digital foram enormes na cultura e na música. Além da maior autonomia para produção e fruição, alguns valores foram revistos. E num momento em que é possível se conectar com a cultura de qualquer local do mundo é que o legado de Chico Science ainda mostra a sua potência: ele evidencia como é importante olhar para o nosso redor.

Esse aspecto continua vivo em vários artistas que não necessariamente são do manguebeat — é raro, inclusive, ver novos nomes que se rotulam com o gênero. Esse legado está em cantores, MCs, poetas orais, grafiteiros, dançarinos.

“Maga do litoral (chama) / Chama o terror da manguetown”, versa a poeta slammer e rapper Bell Puã, 28, na canção Dale. O clipe da faixa tem como cenário um mangue, que continua sendo uma metáfora para a valorização do que é local e historicamente repudiado. Bell, inclusive, tem mestrado em história e pesquisou a historiografia do mangue em determinados períodos.

“O mangue era repudiado pelas classes dominantes, sendo Josué de Castro o primeiro intelectual a defendê-lo. Já Chico Science trouxe algo bastante midiático na defesa desse mangue, trazendo-o para as artes, como um símbolo da nossa cidade”, conta Bell, que foi a vencedora do Slam BR, competição de poesia falada, disputada em São Paulo em 2017.

“Eu acredito que Chico e a Nação Zumbi respiram a cidade e mostram que a cidade respira o mangue. Eles nos apresentaram um jeito de ser múltiplo, mas sabendo de onde viemos, valorizando as nossas origens. Isso tudo de um jeito muito único na poesia.”

O olhar sensível para as periferias se faz presente no Coletivo Pão e Tinta, que usa o grafite como instrumento de transformação social há cerca de dez anos na Comunidade do Bode, no Pina, Zona Sul do Recife. A arte urbana é um dos pilares da cultura hip hop, que inspirou bastante Chico no final dos anos 1980.

“O coletivo é formado por pessoas do próprio Bode. Somos uma comunidade tradicional pesqueira do Brasil, estamos bem na beira do mangue e vivemos uma disparidade social gritante. O Pina é cercado por torres, mas aqui temos palafitas. Chico tentou falar muito sobre essa calamidade, o que nos inspirou muito. ‘Quanto mais miséria tem, mais urubu ameaça’. É sobre a especulação imobiliária, o sistema”, diz Pedro Stilo, 33, acelerador social e articulador do coletivo.

Fonte: JC Online

Criador do manguebeat, Chico Science faria 50 anos neste domingo

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Neste domingo (13), o pernambucano Chico Science, artista que criou o movimento manguebeat, um marco na música brasileira na década de 90, completaria 50 anos de idade. Science morreu precocemente em um acidente de carro, em Olinda (PE). Para celebrar sua vida e obra, está prevista em 2016 uma série de lançamentos culturais.

Também neste ano completam-se 20 anos do álbum Afrociberdelia, que consagrou Chico Science dentro e fora do Brasil. A banda Nação Zumbi, da qual Chico fazia parte, sai em uma série de shows pelo país para cantar novamente as faixas do álbum e homenagear os 50 anos do artista.

O primeiro show da Nação Zumbi ocorreu ontem (12), em Salvador. Este primeiro show estava inicialmente previsto para as comemorações do aniversário do Recife. Mas agora a banda se apresentará na capital pernambucana apenas em maio. “Faremos o show de Recife em maio para termos mais tempo de fazê-lo caprichado, da maneira que tínhamos planejado e com convidados super especiais”, anunciou a Nação Zumbi por meio de comunicado.

As homenagens ao cinquentenário de Chico Science começaram ainda no Carnaval. Os blocos Siri na Lata e Galo da Madrugada homenagearam o mangue boy. Maior bloco de Pernambuco e já considerado o maior bloco do mundo pelo Guinness Book, o Galo dedicou o enredo deste ano ao artista: “Galo, Frevo e Manguebeat: Homenagem a Chico Science”.

Também no carnaval, a filha de Chico, Louise França, que se apresenta como Lula Lira, participou pela primeira vez de uma apresentação da Nação Zumbi no Marco Zero do Recife. Ela abriu o show cantando a música Monólogo ao Pé do Ouvido”, do disco Da Lama ao Caos, de 1994, e improvisou homenagens a Chico e ao movimento Ocupe Estelita.

Livro

Um livro que conta a rápida trajetória de Science no Nação Zumbi deve ser lançado ainda este ano. Em entrevista ao Portal EBC, Paulo André Pires, empresário que acompanhou a gravação dos dois discos que Chico Science gravou – Da Lama ao Caos e  Afrociberdelia, de 1996  – relatou que o livro terá o título Inconformados. Na obra, Pires conta a história do manguebeat, movimento cultural que surgiu no Recife e ganhou o mundo.

Documentário

Na data em que Chico Science completaria 50 anos, será exibido pela primeira vez o documentário Chico Science – Um Caranguejo Elétrico. Dirigido pelo paulista José Eduardo Miglioli, com roteiro do jornalista pernambucano José Teles, autor do livro Do frevo ao mangue e Meteoro Chico, o filme é coproduzido pela RTV, Globofilmes e Globo Nordeste.

Além  de relatos de pessoas próximas ao músico, o filme tem imagens da apresentação de Chico Science e Nação Zumbi no festival Central Park Summer Stade, realizado em 1995, durante a primeira turnê internacional da banda.

Por ocasião dos 20 anos dessa apresentação, o Nação Zumbi foi convidado a se apresentar novamente no festival ano passado. Os registros em áudio em vídeo da apresentação de Chico Science e Nação Zumbi realizada mo festival em 1995 devem ser lançados oficialmente este ano, em CD e DVD.