Cristovam Buarque se licencia para sair candidato a presidente do Brasil

Cristovam Buarque já concorreu à presidência em 2006

O senador Cristovam Buarque (PPS-DF) protocolou ontem (8), no Senado, um pedido de licença para se afastar por quatro meses do cargo a fim de percorrer o país atrás de apoio à sua candidatura à presidência da República. O senador estará afastado a partir do dia 1º de dezembro e fará algo similar ao que tem feito o ex-presidente Lula em suas caravanas pelo Brasil em busca de apoio e votos. Durante esse período, entretanto, o congressista não receberá salários.

Apoio é realmente algo que Cristovam terá de buscar, tanto junto à população quanto dentro do próprio partido. O diretório do PPS em São Paulo já declarou publicamente que apoiará a candidatura do governador do estado, Geraldo Alckmin, que deverá ser confirmado na disputa ao Planalto no próximo dia 9 de dezembro, quando acontece a convenção do PSDB. Neste viés interno do PPS, Cristovam acredita ser possível conquistar a simpatia de outros 26 diretórios do partido.

O PPS é a terceira sigla na vida política de Cristovam Buarque. A primeira delas foi o PT, partido do qual saiu em 2005, antes do episódio do mensalão. Logo depois ele se filiou ao PDT, onde ficou por 11 anos e foi candidato à presidência da República em 2006. Naquele pleito, ele obteve mais de 2,5 milhões de votos, ou 2,64% dos votos válidos, o que lhe rendeu a quarta posição no primeiro turno, atrás dos candidatos Lula, Geraldo Alckmin e Heloísa Helena.

Em fevereiro de 2016, Cristovam Buarque deixou o PDT e seguiu caminho para o PPS. Oficialmente, o senador falou que havia deixado o ex-partido de Leonel Brizola por não concordar em fazer parte do até então governo da ex-presidente Dilma Rousseff. Na época, contudo, muitos diziam que o pedido para sair da legenda era pela filiação de Ciro Gomes, que negociava com a sigla para se lançar ao Planalto, o que sempre foi desejo do senador do DF.

Além de percorrer o restante do Brasil, o senador também terá como foco o DF. Ele afirmou que quer entender o que  “a população acha do mandato, se acha que deve ser renovado”. Ter um retorno dos seus eleitores locais é importante para compreender como Cristovam se sairia em uma eventual disputa pelo governo local ou ainda para ocupar mais uma vez uma cadeira no Senado. Esta estratégia serviria como uma salvaguarda caso não consiga apoio ou não tenha condições de disputar com força à presidência.

Afago

Quem está sorrindo à toa com a licença de Cristovam é o Partido dos Trabalhadores. A cadeira do senador do PPS será ocupada, a partir de 1º de dezembro, pelo seu suplente, Wilmar Lacerda, PT-DF. Nos bastidores, há quem afirme que este movimento também é um afago à sua antiga sigla. Muitos parlamentares petistas ficaram bastante furiosos com Cristovam por ele ter votado em favor do impeachment de Dilma.

Inauguração de obras nos três meses anteriores às eleições poderá ser proibida

Proibir a inauguração de obras públicas nos três meses que antecederem eleições é o objetivo do PLS 199/2017, recentemente apresentado pelo senador Cristovam Buarque (PPS-DF). O projeto aguarda a designação de relator na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ)

A proposta deve alterar a Lei das Eleições (Lei 9.504/1997) para proibir a inauguração de obras públicas durante o pleito eleitoral e nos três meses anteriores. Também ficará proibida no mesmo período, segundo a proposta, a realização de shows artísticos, eventos culturais, feiras e exposições pagos com recursos públicos.

De acordo com o autor, o objetivo é evitar que inaugurações de obras públicas sejam usadas com conotação eleitoral em benefício de algum candidato. Cristovam explica que a Lei das Eleições já proíbe a presença de candidatos em inaugurações de obras públicas nos três meses anteriores à eleição, sob pena de cassação do registro ou diploma.

“Entretanto, é inegável que uma inauguração em plena campanha ou em período próximo a ela, ainda que os candidatos não compareçam, pode adquirir forte conotação eleitoreira, principalmente em cidades pequenas”, argumenta Cristovam na justificação do projeto, acrescentando que essa avaliação também se aplica a eventos artísticos e afins, que podem ter intenções eleitoreiras quando promovidos em épocas próximas a eleições.

O projeto receberá decisão terminativa na comissão. Se for aprovado e não houver recurso para que seja votado pelo Plenário do Senado, poderá seguir diretamente para a Câmara dos Deputados.

Cristovam: Debate eleitoral de 2018 será pautado por luta entre gerações

Senador Cristovam Buarque (PPS-DF)/Foto: Ana Volpe da Agência Senado

O senador Cristovam Buarque (PPS-DF) acredita que o debate eleitoral do país, no próximo ano, não será pautado por questões relacionadas à luta de classes, mas à luta entre gerações e de categorias profissionais.

Esse cenário, na opinião dele, começou a se desenhar a partir das decisões dos últimos governos, que, ao priorizarem um desenvolvimento rápido e imediato, não adotaram medidas pensando nas gerações futuras.

O resultado disso, de acordo com Cristovam Buarque, é que está sendo negado aos jovens de hoje o direito de terem um futuro sem violência, com emprego e previdência e com o meio ambiente preservado.

“A disputa de interesses corporativos não traz projeto nacional; traz a repartição do pouco que aí temos, cada um dos grupos querendo puxar mais para si. E aí vem a necessidade de se endividar para atender a todos, que foi o que os últimos governos fizeram. Para não dizer que os recursos não davam, para não escolher lados, ou para não conciliar, criando uma coesão nacional, os governos daquele momento preferiram prometer tudo para cada categoria, para cada grupo”, disse o senador.

“É preciso o impeachment do atual modelo político”, diz Cristovam Buarque  

A solução, segundo o senador, é o surgimento de uma nova esquerda/Foto: Waldemir Barreto Agência Estado

A solução, segundo o senador, é o surgimento de uma nova esquerda/Foto: Waldemir Barreto Agência Estado

Pernambucano, nascido no Recife em 1944, mas com mandato pelo Distrito Federal, o senador Cristovam Buarque (PPS) é um dos mais respeitados homens públicos do País. Ele foi ministro da Educação do primeiro governo Lula (PT), entre 2003 e 2004, e hoje é um dos maiores críticos do modelo político encabeçado pelo ex-presidente da República e executado pela presidente Dilma Rousseff (PT).

Cristovam é uma das vozes que defendem o impeachment da presidente, mas enfatiza que a iniciativa pouco ajudará o País. “Com o impeachment ou com Dilma no governo, o Brasil vai ficar no mesmo rumo de uma crise profunda. Não tenho otimismo do que vai acontecer na história, política, econômica e social do Brasil nos próximos anos”, opinou.

Ninguém escapa às críticas de Cristovam. “A democracia entrou em crise porque os partidos não significam nada, o Congresso não funciona bem e o Executivo aparelhou o Estado. Há uma crise de modelo. Precisamos de um impeachment do modelo”, falou.

Para o senador, que já foi filiado ao PT, a esquerda brasileira sairá manchada após os últimos acontecimentos, que envolvem desde a Operação Lava Jato até o processo de impeachment de Dilma.

“A esquerda brasileira sai mais do que arranhada desses episódios. Ela está embaixo dos escombros criados pelo governo do PT”, diz.

A solução, segundo o senador, é o surgimento de uma nova esquerda. “Uma esquerda que entenda a estabilidade monetária como algo possível, que o fundamental não seja o estatal, mas o público, que ponha a educação como motor do progresso. Tenho a impressão que isso vai demorar, que vai ter que passar pela oposição para acontecer. O lugar de definir sonhos é a oposição e o de realizar é o governo”, declarou.

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