Especial Dia da Mulher: Dalila Santos

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Sou a primogênita de um casal que durou pouco mais de dois anos. Fui criada por minha avó e minha mãe, que teve outra filha antes de se separar. Minha avó servia comida e criou os quatro filhos (dois homens e duas mulheres). Cresci vendo a luta diária dela para alimentar uma família inteira, sempre com dignidade. A prioridade sempre foi a educação. Sempre ouvi que uma boa educação seria a garantia um futuro melhor. Estudei em escolas públicas toda a vida, com exceção do ginásio, onde fui bolsista de uma escola particular de bairro. Fui subindo cada degrau da educação: fiz faculdade de jornalismo, mestrado em estudos de gênero e hoje sou professora do curso onde estudei e quase doutora em estudos de gênero. Não foi fácil chegar até aqui. Aliás, cada dia é uma batalha, pois a sociedade não sabe reconhecer a vitória de uma mulher vinda das camadas populares e filha de mãe solteira negra.

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Minhas referências sempre foram minha avó Ione e minha mãe Marta: mulheres de força, felizes e amáveis. Elas me ensinaram tudo que trago na vida como base para um mundo melhor.  Outras mulheres também surgiram no meu caminho e se tornaram referências nos estudos acadêmicos e na militância. Minhas companheiras de movimento são espelhos onde me enxergo, me mostram a diversidade das mulheres na nossa sociedade. Caminhos diferentes, mas com bandeiras de luta comuns.

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Primeiro módulo da Escola de Formação Feminista Ana das Carrancas

Avançamos muito na conquista dos direitos das mulheres, mas ainda não temos uma sociedade justa e igualitária. O que buscamos não é reverter o quadro, mas transformar o mundo em um espaço onde mulheres e homens sejam tratados como iguais, garantindo direitos e deveres a todas e todos. Hoje uma das questões mais evidentes quando falamos da vida das mulheres, reforma política e a violência. Precisamos ter representatividade na política, pois somos a maioria da população (51%) e não estamos nas câmaras, prefeituras, governos, assembleias e congresso. As mulheres foram excluídas ao longo da história política do Brasil dos processos que norteiam este setor. Precisamos inserir nossas pautas no Congresso, que atualmente tem diminuído os direitos conquistados pelas mulheres com muita luta nas últimas décadas. Sobre a violência, os dados continuam crescendo no Brasil. Sabemos que isso é consequência do crescente número de denúncias, mas precisamos apagar esses dados do mapa do nosso país. Conquistamos leis e aparatos no Estado para garantir a seguridade das mulheres, mas se não quebrarmos o machismo impregnado em nossa sociedade, não avançaremos na eliminação da violência contra as mulheres.

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Acredito que uma das ferramentas para mudar a nossa sociedade é a educação. Sou educadora e levo diariamente as questões de gênero para a sala de aula, corredores e salas de reuniões da universidade. Só pela conscientização da trajetória das mulheres no mundo e das formas como o patriarcado atua nas relações sociais é que iremos vencer esta desigualdade. Como falamos nos espaços de militância: “Precisamos mudar a vida das mulheres para mudar o mundo. Mudar o mundo para mudar a vida das mulheres”.

Dalila Santos – Jornalista, professora do curso de Comunicação Social da Uneb e militante da Marcha Mundial das Mulheres