Homem morre com Guillain-Barré após doença ser confundida com virose

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Virose. Esse foi o diagnóstico ouvido pela família do metalúrgico Ivaldo Alves da Costa, 53, nas três vezes em que procurou a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Sotave, em Jaboatão dos Guararapes. No último dia 16, depois de 12 dias internado no Hospital da Restauração (HR), no Recife, Ivaldo morreu. No atestado de óbito, a rara Síndrome Guillain-Barré (SGB) – associada a processos infecciosos como dengue, chikungunya e zika – consta como causa da morte e revolta a família, que acredita que ele poderia estar vivo caso tivesse sido diagnosticado a tempo. Nos últimos dois dias, outras duas pessoas morreram com suspeita da síndrome no HR, que investiga os casos. Na unidade de saúde que é referência para o tratamento da síndrome neurológica no estado, a taxa de mortes associadas à Guillain-Barré foi de 16,3% – superior a estimativa da Organização Mundial da Saúde (OMS), que não chega a 10%.

Uma dor muito forte na perna e uma febre leve foram os sintomas que levaram Ivaldo a procurar, no fim de janeiro, um Posto de Saúde, em Jaboatão. Poucos dias depois, com dor nas juntas, formigamentos, dormência e sem conseguir se alimentar direito, procurou a UPA Sotave, onde uma suposta virose foi confirmada, mesmo sem a realização de exames específicos – segundo relata a família. Nos dias seguintes, voltou à mesma UPA duas vezes, já sem conseguir ficar em pé sozinho e com dificuldade de suportar as fortes dores. O diagnóstico era sempre o mesmo.

Revoltada diante da falta de atenção com o marido, que piorava agressivamente a cada dia, a viúva Valdênia Vieira chegou a pressionar o médico para que ao menos um nome fosse dado à tal virose. “Deve ser uma virose dessas, tipo chikungunya”, foi a resposta que ouviu, conta, lembrando de outros abusos ocorridos dentro da unidade de saúde. “Na segunda vez que fomos eu perguntei se ele não ia nem aferir a pressão e nem fazer teste de glicose e o médico perguntou ‘ele é diabético? é hipertenso? então não precisa fazer’”, relata. “Se o médico, que estudou para isso, está dizendo que é uma virose, uma pessoa simples como eu vai dizer o que?”, questiona.

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Confirmação de morte por Guillain-Barré pode demorar até 30 dias

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O Hospital da Restauração (HR), no Recife, pode levar até 30 dias para confirmar se foi mesmo a síndrome de Guillain-Barré a causa da morte da adolescente Xukuru, Danielle Marques de Santana, nesta quarta-feira (06). Apesar da síndrome aparecer no atestado de óbito da vítima, o HR afirmou, em coletiva de imprensa no fim da manhã desta quinta, que somente exames póstumos poderão comprovar a suspeita. Um dos exames sairá em até 30 dias.

A médica Lúcia Brito explicou que Danielle chegou no HR com infecção grave e coube à equipe da unidade primeiro tentar reverter as complicações e só depois realizar o diagnóstico, mas a paciente veio a óbito.

Danielle estava internada na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) da restauração há quase dois meses. O primeiro atendimento, por suspeita de chikungunya, foi realizado no Hospital Dr. Lídio Paraíba (HLP), ainda em Pesqueira, onde Danielle vivia. Depois de alguns dias sem evolução, ela foi encaminhada para Caruaru, onde a gravidade do caso foi identificada. Para a família da vítima, houve descaso com Danielle em Pesqueira. Nesta manhã (07), a secretária de Saúde do município, Elizabete Costa, deixou o cargo.

O corpo de Danielle foi velado na aldeia Pé de Serra de São Sebastião, a 16 km de Pesqueira e a previsão é que o enterro aconteça nesta tarde.  (Diário de PE)