Rejeitos de Brumadinho ameaçam contaminar o Rio São Francisco; produção de Petrolina pode ser afetada

Pesquisadores temem que produtos tóxicos eventualmente despejados no rio sejam carregados até áreas produtivas. (Foto: Divulgação/Ministério da Integração Nacional)

Pesquisadores da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj) temem que os efeitos do desastre ocorrido em Brumadinho (MG) afetem a população pernambuco. O grupo está realizando um estudo emergencial a partir de imagens de satélites para descobrir o alcance de uma provável contaminação da bacia do Rio São Francisco.

O responsável pelo estudo e pós-doutor em risco de desastres pela Universidade de Buenos Aires (Argentina), Neison Freire, está avaliando os volumes em quilômetros quadrados e a velocidade de movimentação da lama. “Teremos a extensão da área de contaminação até determinada data. Saberemos se haverá possibilidade de atingir a bacia do São Francisco. Se houver contaminação lá, com certeza sentiremos aqui. Fatalmente o rio será contaminado. Procuramos agora o nível de contaminação. Mais cedo ou mais tarde isso chegará à foz, em Piaçabuçu, Alagoas”, explicou o pesquisador.

Em Pernambuco, Neison demonstra preocupação especialmente com a produção frutiovinocultura (consorciação de fruteiras com criação de ovinos) de Petrolina. “Os elementos dessa vez são mais pesados que os da barragem de Mariana, rompida em 2015. Por isso temos mais energia cinética (que dá velocidade à lama) e mais poder de destruição”, avalia.

“Se for detectado metal pesado nos melões ou nas mangas produzidas em Petrolina, sem dúvida as exportações para a Europa serão afetadas. O problema vai do pescador, do pequeno produtor, até o grande latifundiário. Falamos de um rio que já é muito sofrido. Pela contaminação por esgoto, desmatamento, assoreamento”, ressalta o pesquisador.

O problema, contudo, não é a lama em si, mas os elementos químicos que se misturam na água, segundo o doutor em Oceanografia Biológica pela Universidade de São Paulo Clemente Coelho. “Não veremos a parte física, aquela lama, mas sentiremos a partir do material diluído na água. E, mesmo se toda a lama fosse contida agora, esse material chegaria até o litoral através da cadeia de fauna e flora do rio São Francisco.

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Especialista afirma que “rejeitos da barragem da Vale chegarão ao Rio São Francisco”

Bombeiros buscam vítimas em Brumadinho. (Foto: Whasington Alves/AFP Photo)

O geólogo e professor doutor em Geografia Física da Universidade Federal do Ceará (UFC), Jeovah Meireles, afirmou, nesse domingo (27), em entrevista à Agência Eco Nordeste, que os rejeitos de minério de ferro da Barragem 1 da Mina Feijão, em Brumadinho (MG), “chegarão até a Bacia do Rio São Francisco de qualquer forma”.

A barragem, que pertence à mineradora brasileira Vale, rompeu no início da tarde desta sexta-feira (25), deixando, a princípio, 58 mortos e 305 desaparecidos, casas soterradas, além de destruição da fauna e da flora da região. Outra 192 pessoas foram resgatadas com vida. Um ônibus foi encontrado na noite desse domingo com vários corpos.

“A lama contaminada com minério de ferro já atingiu o Rio Paraopeba, que deságua no Rio São Francisco. Então, mesmo que eles tentem conter o seguimento da lama de rejeitos na barragem da Usina Hidrelétrica de Retiro Baixo, quando houver precipitações acima da média na região, a barragem vai precisar sangrar e os rejeitos vão sair misturados à água. E essa água vai seguir o fluxo do rio, que deságua no São Francisco e em outros, até chegar ao mar. A contaminação irá se espalhar”, explica o professor. 

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