Espaço da leitora: o Dia da Mulher de uma profissional de saúde

No Dia Internacional da Mulher, o Blog Waldiney Passos abre espaço para o Diário de uma Pandemia. No texto a seguir a médica da rede pública de Petrolina, Polianna Granja faz um relato pessoal da sua rotina enquanto mulher e profissional da saúde no atual cenário de avanço da covid no país.

Confira a seguir:

Diário de uma Pandemia – Dia 06, ano II: o Dia Internacional da Mulher

Acordei angustiada pensando nas milhares de preocupações que povoam a cabecinha (não tão pequena) dessa mulher que estou tentando ser. Ouvi o áudio da filhinha da recepcionista da Unidade Básica de Saúde onde trabalho (ela e o esposo encontram-se isolados por estarem infectados pelo novo coronavírus): “eu também estou com saudades, a gente tem que ficar junto, é o que diz o amor de Deus”.

Eu tive vontade de chorar e dizer pra ela buscar as duas filhas, mas engoli seco e pedi pra ela só encontrá-las na quarta-feira. Eu não sou mãe, não consigo imaginar o que Fran está sentindo agora, mas mesmo assim, doeu em mim.

Assim como doeu quando Géssica (assistente de farmácia, meu braço direito e personal  fazedora de trança e cafuné) ficou apavorada pela hipótese de estar infectada. A preocupação? Suas duas filhas…como ficar longe?

Eu sei que mulher é um bicho forte e vira leoa quando mexem com os seus (e não precisa ser mãe ou ter gestado alguém para isso). Vovó Júlia saiu de Belém do São Francisco, onde era auxiliar de serviços gerais no hospital, costureira e milagreira (só milagre pra explicar como ela conseguiu criar 09 na raça, sem ajuda do meu avô) e formou meio mundo de gente (entenda formar, por criar gente honesta e de bem,  não tem Universidade no mundo que ensine isso). Vovó Tereza, igualmente, criou 09 com a cara e a coragem, já que por motivos alheios à vontade e controle do meu avô, ele não pode fazê-lo. Elas não viram minha formatura, não viram Camila passar no concurso da polícia, não viram Nathália passando em concurso, fazendo faculdade, pós, criando dois meninos e chupando cana enquanto assobia. Não viram Aninha e Telinha se desdobrando e sendo educadoras no sentido mais genuíno da palavra. Mas, eu sinto que elas viram tudo lá em cima e tenho a presença delas quando tomo um cafezinho com tia Aldete, quando ouço as histórias de tia Lourdes, quando tia Nélia divide o pão comigo e fala como vovó fazia um único pão render pra ela e as 03 filhas mais novas (eu disse que ela fazia milagres, não disse?).

Não é o melhor dia da mulher da minha vida, mas não podia deixar de agradecer a algumas mulheres que fizeram e me fazem ser e construir a mulher que estou tentando ser. Mainha, obrigada por cada vez que a senhora pediu bolsa de estudos pra gente e acreditou que a gente poderia ser quem a gente quisesse ser (obrigada também por ter me despertado o amor pela leitura e escrita, já que foi a senhora quem me alfabetizou). Tia Ivonice, minha primeira professora na Sabiá Escolinha. Simone e Cristina Oliveira (in memorian) , por me concederem mais que uma bolsa de estudos e abrigo na faculdade. Mary Ann e Hermiete Saraiva, por acreditarem, confiarem, pelas inúmeras bolsas no cursinho e pelas orações que eu sei que vocês fizeram por mim e pelas minhas irmãs. Paulinha, por ter sentado no batente do cursinho do Geo quando disseram que não tinha vaga e assim permanecer assistindo aula até surgir uma vaga. Ju, pelo cuidado maternal e sindicalismo na UEFS. Minhas tias, pelo cuidado, carinho, novenas em Caboclo, massagem nos pés depois da semana difícil, chazinhos no final do dia e tardes de calor e fome em reunião de sindicato (quem viveu reunião do SINTEPE sabe). Marianne Sabino e Paullete Cavalcanti por me inspirarem o amor pela MFC quando todo o mundo incentivava o contrário. Érika e Gabi, por serem mais que preceptoras. Lu, Heidinha, Relps, Ysa, Lai, Lets e Li, por serem profissionais excelentes e por me aguentarem há tantos anos (assim como suas mães). Leela, Nathalie, Camila e Ana, por serem mais que R + ou R = . Paty, por labutar em tanto plantão na Upa e ainda fazer um cuscuzinho pra matar a fome enquanto assisto aula. Jéssica, pelo exemplo de mãe e agora, empreendedora. Mayara, por topar várias loucuras e acreditar em planos. Babinha, por aguentar os desabafos e mesmo assim, continuar minha amiga. Yes e Milka, pelos anos de amizade, orações, panelas de caldo ( que ainda me devem 02). Ritinha, por me mostrar o que o amor de Deus é possível de fazer e como uma mulher temente edifica sua casa, seu trabalho e onde quer que esteja. Roanna, por coisas que só a gente precisa saber. Ana Arósio e Lore, pelas enfermeiras arretadas que são. Ingrid e Carlinha, pela amizade intacta mesmo quando a gente passa anos sem se ver.

Poderia passar o dia agradecendo aqui, faltariam caracteres. Mas, o tempo corre e o SUS me espera.

Petrolina, 08 de Março de 2021

Polianna Guedes Granja

Neta de Júlia e Tereza, filha de Nataíde, irmã de Paula e Juliana

Cristã. R2 em MFC na Univasf. Orgulhosa e grata.

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