No segundo capítulo do Diário de uma Pandemia, a médica residente Polianna Guedes Granja aborda um tema pertinente a nossa sociedade: relacionamentos abusivos. “Meninas… se estiverem passando por qualquer coisa parecida… procurem ajuda, conversem, peçam conselhos a quem você confia“, aconselha a profissional da Atenção Básica em Petrolina.
Confira o Diário a seguir:
Diário de uma Pandemia, Dia 07, ano 02: Feminista, Emponderada e vivendo um relacionamento abusivo
Ainda estamos em Março e creio que seja importante tocar num assunto tão delicado e, infelizmente, tão pertinente. Relacionamentos abusivos permeiam a nossa realidade diariamente, mas nem sempre reconhecemos. Sabe o namorado da amiga que não gosta de ninguém da turma? Ou aquele que passa semanas sem aparecer no almoço de domingo da família DELA… porém, é bastante presente em qualquer evento familiar DELE, mesmo que seja uma aglomeração desaconselhada em plena pandemia do novo Coronavírus? Então… típico comportamento do heteromacho tóxico e abusivo.
Você a princípio, vai me dizer: nossa, que moça radical, só pode estar exagerando! Mas, experimente ser médica na Atenção Básica…ter seu núcleo familiar TODO de risco e conviver com alguém que não respeita o uso de máscara, isolamento social e afins. É coisa difícil de aguentar… ainda mais, quando você abre mão de passar mais de 03 meses sem ver os seus pais, devido à pandemia.
E, por outro lado, quem tá ali contigo ignora todo seu sofrimento e esforço para ter dias de farra regados à bebida e à música alta tocada em paredões. Sabe o “companheiro” que some na véspera do concurso que você foi fazer em outra cidade? Que não comparece ao aniversário de 30 anos da sua melhor amiga, no final de semana no qual você passou na sua segunda prova de residência, após momentos difíceis, porque está cansado… mas, aparece misteriosamente numa boate na mesma noite? Aquele que arranja briga e faz você sair de doida em qualquer dia no qual você pareça estar feliz e realizada… Então, amiga… fuja para as colinas!
Há aproximadamente um ano, ouvi as seguintes frases: você está muito Girl Power para o meu gosto! Você quer abraçar o mundo com os braços! Você não é melhor que ninguém! Então… ao ouvir a primeira frase eu respondi: pois então prepare-se, vai piorar!!! E hoje, eu abraço o mundo que eu quiser com meus braços, antes considerados curtos para tal feito. Continuo não me achando melhor do que ninguém… mas, todos os dias, tento ser a melhor versão de Polianna que posso ser, se comparada a ontem.
Se você não tem capacidade, vontade e disposição para mudar o seu mundo, te entendo…mas não venha me dizer que eu não sou capaz. Fui criada por pais, irmãs, tias e primas incríveis que me mostraram que, se eu quiser, eu posso fazer qualquer coisa. Meninas, se estiverem passando por qualquer coisa parecida… procurem ajuda, conversem, peçam conselhos a quem você confia. Estamos juntas!
Petrolina, 21 de Março de 2021
Polianna Guedes Granja
Filha de Paulo e Nataíde
Irmã de Paula, Juliana e Matheus
Residente do segundo ano em MFC na Univasf
Orgulhosa, cada dia mais, de ser quem escolhi ser!
